sábado, 16 de junho de 2012

O Vencedor do nosso passatempo

E o vencedor do nosso passatempo `Star Wars 35 Anos´é o Mário Cunha que nos enviou um texto muito bem elaborado.Queremos agradecer a todos os participantes que enviaram excelentes respostas mas achamos que este foi o melhor:

Vivi durante muitos anos na escuridão. Não no sentido


literal da palavra, claro está, mas no sentido em que era um

jovem de 25 anos que nunca tinha visto o filme Guerra das

Estrelas. Não que tivesse vivido isolado numa ilha ou

fechado numa qualquer gruta, mas durante muito tempo fui

céptico. Alguns dos meus amigos falavam-me do filme que

devia entrar para a lista das 7 Maravilhas do Mundo, mas

parte de mim achava que era exagero. Assim, não foi senão

no verão de 2011 que, desafiado pela minha namorada,

decidi ver toda a hexalogia da Guerra das Estrelas e percebi

imediatamente que toda a minha vida tinha estado errado: não era exagero, os filmes Guerra

das Estrelas deviam, de facto, ser considerados um das 7 Maravilhas do Mundo.

Como já referi, foi desafiado pela minha namorada que acabei por ver os filmes da franquia

Guerra das Estrelas. Para efeitos desta análise e dadas as circunstâncias, a visão aqui

partilhada sobre o filme A Guerra das Estrelas Episódio IV: Uma Nova Esperança (sendo que

em 77, no momento da sua estreia apenas tinha o nome de Guerra das Estrelas) é muito

diferente da de quem cresceu com os filmes e, particularmente, com a trilogia original. Não

quero com isto dizer que seja pior ou melhor, é apenas diferente. Diria que uma das principais

diferenças está na medida em que pouco ou nenhum efeito surpresa havia quando,

finalmente, assisti aos filmes, já que apesar do meu cepticismo a história dos filmes já era por

mim vagamente conhecida.

Mas se a história não apresentava grandes surpresas, o filme representou, por si, uma

surpresa. Depois do mítico “Numa Galáxia distante, há muito, muito tempo atrás” e de um

tema que ainda hoje trauteio sem me dar conta, é-nos dado um pequeno briefing da história

que antecede os momentos imediatamente anteriores ao filme. De mencionar, que só a forma

como a história é aqui apresentada tornar-se-ia, por si, um símbolo do cinema. Logo de

seguida somos presenteados com uma cena que marca bem o pulso daquilo que poderíamos

esperar deste filme e de todos os que lhe seguiriam: num cenário espacial uma nave é

perseguida por uma outra bem maior e majestosa, com um nível de detalhe que impressiona

qualquer fã de ficção científica. Para mim que via esta cena num pequeno ecrã de

computador, podia apenas imaginar a forma como em 77 os fãs viam surgir esta cena no

grande ecrã (o mais próximo que teria a esse momento, e que terei enquanto o filme não

estreia em 3D, foi depois ao rever o filme em Blu-Ray numa televisão de maiores dimensões).

Depois de uma rápida cena de “batalha especial”, a nave mais pequena – a Tantive IV – é

abordada pelo Star Destroyer do Império. Já dentro da primeira nave, são-nos “apresentados”

os dois droids – R2-D2 e C-3PO, na altura ao serviço da Princesa Leia – assim como a tropa de

elite composta pelos Stormtroopers. Tudo isto serve apenas para criar um dos maiores

momentos da história do cinema até à altura: a entrada em cena do maior vilão de todos os

tempos, o imponente, sombrio e majestoso Darth Vader. Uma vez mais, como alguém que viu

o filme apenas em 2011, conhecendo já a história da personagem e o sentimento que desperta

em quem vê os filmes, posso apenas imaginar o misto de emoções que deve ter sido para

quem, em 1977, viu o filme pela primeira vez. Sabemos que ele é mau – e logo a sua

abordagem aos tripulantes da nave abordada o comprovam – mas ao mesmo tempo, à medida

que o filme se desenvolve, há todo um magnetismo na personagem que nos leva a sentir por

ela uma certa simpatia. Mas, voltando à história, enquanto todas estas cenas se passam, a

Princesa Leia encarrega o R2-D2 de levar uma mensagem até a Obi-Wan Kenobi. O pequeno

droid, acompanhado do seu “companheiro de aventuras” C-P3O consegue então escapar

numa cápsula de fuga indo ter a Tatooine, onde após algumas aventuras com uns pequenos

seres nativos daquele planeta, acabam por chegar às mãos de Luke Skywalker e dos seus tios.

O resto, como diz o ditado, é História e, certamente, não precisa de ser aqui repetida. Posso

apenas dizer que este filme encerra-se a si que toca à história interna (ao contrário do que

acontece com as suas sequelas que deixam um arco de história a meio – o da captura de Han

Solo), talvez por George Lucas, o realizador deste primeiro filme e produtor e argumentista da

saga, não ter confiança de que lhe fosse permitido continuar com a história que ele havia

planeado. Também por isso, como já foi abordado, o filme à altura da sua estreia chamava-se

apenas Star Wars, sendo que apenas mais tarde com o seu relançamento em 81 viria a ficar

com o título que lhe conhecemos hoje - Episódio IV: Uma Nova Esperança. Voltando à análise

da história, esta possui os elementos clássicos do conto épico – o eterno confronto entre o

bem e o mal, o romance, a existência de um anti-herói e uma vitória sacada a ferros ao último

minuto. Do ponto de vista cinematográfico foi beber a diversas fontes, desde clássicos do

cinema nipónico como “A fortaleza escondida” de Akira Kurosawa a séries de ficção científica

norte-americanas como as de Flash Gordon, passando por westerns e alguns filmes de guerra.

Toda esta mescla de inspirações foi utilizada na medida certa para que o filme não se tornasse

apenas numa colagem de outros géneros, mas conseguindo antes criar toda uma temática

muito própria e característica. Só assim se explica o facto do filme ter superado os desafios do

tempo, tendo conseguido permanecer actual após 35 anos e com lançamentos actuais de

comics, videojogos, séries que complementam a sua história, facto que vai muito par além do

puro marketing, como alguns querem fazer crer, e que é a verdadeira manifestação da

grandiosidade dos conceitos trazidos ao mundo pelo filme A Guerra das Estrelas.

Do ponto de vista técnico A Guerra das

Estrelas representou igualmente um

marco. Numa altura em que os efeitos

especiais eram ainda feitos sem recurso

a fundos verdes e animações

computorizadas, os modelos à escala

eram trabalhados de forma minuciosa.

Em muito contribuiu para o sucesso do

filme neste campo o facto de George

Lucas ter recorrido à ILM, empresa por si fundada, para trabalhar em A Guerra das Estrelas. A

visão do recentemente falecido Ralph McQuarrie também foi bastante importante neste

campo para determinar a base daquela que seria a estética de todos os filmes da hexalogia.

Hoje, em pleno ano de 2012, há ainda muitas produções com orçamentos elevados que não

conseguem fazer frente à Guerra das Estrelas de 1977. E esta é uma das características que é

impossível não referir sobre o filme Guerra das Estrelas: a capacidade que teve de envelhecer

bem e resistir ao passar dos anos, mantendo-se visivelmente eficaz e atraente, capaz de

convencer o espectador mais moderno da sua qualidade visual.

Por fim, um apontamento sobre as personagens. Muitos críticos apontam a forma como as

personagens foram desenvolvidas como uma das maiores fragilidades do filme. As

personagens são demasiado lineares e, por vezes, até incompreensíveis (quem não se recorda

da reacção tão pouco emocional de Luke depois de descobrir que os seus tios, que o haviam

criado desde sempre, tinham sido mortos por ordem do Império?). Contudo, esta linearidade

não é necessariamente um defeito, mas antes uma questão de feitio. O facto das personagens

serem um pouco como folhas em branco permite-nos a nós, na qualidade de espectadores,

criar uma visão e ligação bem mais profunda com as personagens. Afinal, quanto mais

complexa for a personagem, quanto mais nos for dado, mais dificuldade teremos em associarnos

a elas e isso, é, evidentemente, algo a ter em conta quando se faz um filme para “massas”.

Por isso, as personagens de Star Wars são bastante simples e padronizadas: temos o herói que

enfrenta as dificuldades da sua própria natureza para se “impor” como tal (Luke), a princesa

que precisa de ser salva mas com atitude (Leia), o anti-herói (Han Solo, sem dúvida), o antigo

herói que passa a tocha (neste caso o sabre de luz) ao novo herói (Ben Kenobi) e o vilão (Darth

Vader). É certo que esta dinâmica alterar-se-á nos filmes seguintes, mas para efeitos de análise

do Ep. IV esta é a leitura que parece mais correcta.

Pessoalmente, como bem saberão muitos dos meus amigos mais próximos, 34 anos depois do

seu lançamento, o filme da Guerra das Estrelas conseguiu ainda impressionar-me. Apesar de já

ter visto muitos filmes de ficção científica, reconheço a superioridade técnica deste filme … e

como não o fazer? Em relação à história, é impossível ficar indiferente à mitologia que Star

Wars criou. Depois de durante as descobertas Portugal ter dado novos mundos ao Mundo, em

77 foi George Lucas quem deu novos mundos à Galáxia.

Em suma, todos estes elementos fizeram com que o filme A Guerra das Estrelas se tornasse

um fenómeno cultural, sendo dos poucos onde, passados 35 anos, todo o hype à sua volta

continua a ser justificado. É um filme melhor do que qualquer uma das suas imitações (e

acreditem, foram muitos os que tentaram copiar a fórmula) e que certamente continuará a

apelar a muitas das gerações vindouras. Este ano celebraram-se os 35 anos desde o seu

lançamento e o que parece agora uma grande quantidade de tempo revelar-se-á, sem dúvida,

no futuro como apenas mais uma data, já que muitos serão os aniversários vindouros a serem

celebrados, não estivéssemos nós a falar d’A Guerra das Estrelas.

Análise feita por Mário R. Cunha

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