Francisco Pestana é um ator e dramaturgo português que tem trabalhado
em novelas,teatro,cinema e dobragens de voz,em que foi a voz do Palpatine no
filme de animação Star Wars: Clone Wars.
SWCP: Fale-nos um pouco sobre a sua participação na animação Star Wars:
Clone Wars.
F.P: Dou voz a personagens de séries e filmes de animação desde 1983.
Fazer dobragem de voz implica e pressupõe técnica e criação artística. É
um duplo desafio para um actor, o qual, desde sempre, gostei de aceitar. Gosto
de dobrar, de emprestar a minha voz tanto a outras pessoas reais, como a
personagens de ficção.
Já fui a voz portuguesa do Walt Disney (tenho um timbre e uma colocação
de voz bastante semelhantes ao dele) e também dei voz a personagens de séries
de animação emblemáticas, como por exemplo “ABELHA
MAIA” “DARTACÃO”, “A VOLTA AO MUNDO DE WILLY FOGG”, “ALICE NO
PAÍS DAS MARAVILHAS”, entre muitas outras.
Nos anos 80 do século XX dobrava muitas séries de desenho animado de
origem japonesa. Era um trabalho bastante difícil, porque as sílabas, a métrica
e o tamanho das frases proferidas em língua japonesa eram substancialmente
diferentes da língua portuguesa ou de qualquer língua ocidental.
Era, com efeito, um grande desafio, dobrar com qualidade, uma série de
origem japonesa. Ainda sou do tempo da chamada “pescadinha”, daquele tempo em
que quando um actor/dobrador falhava todos os restantes participantes na cena
tinham de repetir. Todos tínhamos de acertar ao mesmo tempo. Naquele tempo, não
se podia “meter” a voz, a frase no meio das outras que já tinham sido gravadas.
E, muito menos, dizer as frases no nosso tempo natural de falar, porque, nessa
época, o técnico de gravação ainda não tinha ao seu dispor a tecnologia que
permite a correcção dos chamados “frames”que permite aumentar ou diminuir os
tempos dos batimentos silabares, ou da coincidência do tempo total que durou a
frase proferida pelo actor/dobrador com o tempo da voz original da personagem
do desenho animado.
Posto isto, e, respondendo, objectivamente, às suas perguntas:
A minha participação no filme de animação “STAR WARS/CLONE WARS” tem como origem, em primeiro lugar, o convite
que me foi dirigido pelo estúdio “ON AIR”,
que produziu a versão portuguesa da série e pelo director de dobragem José
Jorge Duarte. Aceitei, de bom grado, participar no “casting” para dar voz e
interpretar a personagem “Palpatine”.
Julgo que, depois, se seguiu o processo normal: a minha voz, entre outras, foi
proposta à produtora original, detentora dos direitos de reprodução e foi,
entre as outras vozes propostas pela “ON AIR”, a escolhida.
SWCP: Fêz alguma pesquisa para tentar imitar o melhor possível a voz do
Palpatine?Já conhecia Star Wars?
F.P: Não fiz qualquer tipo de
pesquisa para imitar a voz original do “Palpatine”.
Não gosto de imitar; gosto de criar ou recriar. Ouço, com atenção, a voz
original. Tento captar-lhe o timbre, a colocação de voz, as intenções, os
sentimentos, o modo de agir e, sobretudo, o tempo e a cadência com que fala e
se exprime, que pode ser mais lento ou mais rápido, consoante as
circunstâncias.
SWCP: É um dos fundadores do Teatro Aberto.Qual é o principal objectivo
deste grupo teatral?
F.P:Sou um dos fundadores da
companhia residente do Teatro Aberto, de cuja direcção faço parte, desde 1982.
Somos um grupo teatral que, desde a fundação, sempre teve como objectivo
apresentar espectáculos que pudessem interessar os potenciais espectadores de
teatro; sempre tivemos a preocupação de levar à cena obras dramatúrgicas que
fizessem o espectador reflectir, pensar, especular, filosofar e divertir-se a
propósito de temas contemporâneos, emergentes do dia-a-dia das pessoas. Somos
profissionais de teatro, exigentes perante nós próprios e trabalhamos sempre no
sentido de apresentar espectáculos baseados num profissionalismo rigoroso.
SWCP: Tem participado como ator em várias tournées pela América Central e
do Sul, assim como em vários países europeus em festivais internacionais. Como
tem sido essa experiência?
F.P: A minha participação em
tournées teatrais nas Américas do Norte, Centro e do Sul e em Festivais
Internacionais de Teatro na Europa e nas Américas foi, entre outras, uma das
experiências mais marcantes na minha vida. Para além de me ter proporcionado o
convívio com povos de 32 países, esta experiência exacerbou a minha paixão pelo
Teatro, na medida em que tomei consciência da força cultural e civilizacional
do teatro, enquanto motor e agente do desenvolvimento humano.
Nota: Esta sua pergunta nº 4 é interessante e pertinente.
Faz-me pensar que já não é possível ter experiências deste tipo, por
falta de interesse e, sobretudo, pela incultura que grassa no mundo. A crise e
a falta de dinheiro não justificam tudo.
No tempo em que havia tournées e
Festivais Internacionais de Teatro havia menos dinheiro disponível do que há
hoje, mas havia mais sentido de comunidade, de vida e de civilização.
SWCP: Interpretou o papel do Bráulio na série televisiva `Os Imparáveis´
em que esta equipa de futebol, perdia todos os jogos! Que táctica gostaria de
sugerir à nossa selecção de futebol?
F.P: No que se refere ao
futebol, estou completamente desalinhado da maioria dos portugueses: a maioria
dos portugueses não gosta de futebol, gosta apenas que o seu clube ganhe.
Acontece que eu gosto de ver um bom jogo e que até tenho simpatia por um
clube de futebol do qual não sou sócio, nem militante, porque, simplesmente,
gosto de futebol, mas detesto a irracionalidade dos clãs e da clubite aguda.
Qualquer clã, clube ou claque reúne pessoas inteligentes e estúpidas. Aquelas
(as inteligentes) sentem uma necessidade urgente de exercer o seu direito à
estupidez e irracionalidade.
Respondendo objectivamente à sua pergunta: em termos de táctica, gostaria
de recomendar ao Paulo Bento e à Federação Portuguesa de Futebol que meditassem
sobre o seguinte:
Enquanto os jogadores de países como, por exemplo a Alemanha, a Holanda,
entre outros, ocupam o seu tempo a treinar, os jogadores da selecção portuguesa
ocupam o tempo a tratar da sua imagem e do seu porta-moedas, a saber, por
exemplo:
- O Cristiano Ronaldo (o
grande CR 7) ocupa-se a fazer anúncios para o BES, a tratar do penteado, a
depilar as sobrancelhas e a andar pelas lojas a escolher os brincos para pôr
nas orelhas;
- O Raul Meireles ocupa
o tempo a fazer tatuagens e a tratar do penacho moicano e da barba, numa
espécie de imitação revivalista do cantor António Variações, que afirmava
situar-se entre Braga e Nova Iorque. Grande Variações! O Meireles está
enganado na imitação. Julgo que ele se situa entre a Merdaleja de Baixo e
a capital da República Centro-Africana;
- O João Pereira parece
ocupar o tempo a ir às compras com o Paulo Bento. Este deve-lhe ter
aconselhado a comprar uns brincos de orelha iguais aos do CR7.
Quanto aos restantes jogadores:
Imagino que se entretenham com jogos de vídeo, play station, a falar ao
telemóvel, ou com outras actividades que lhes retiram a energia necessária para
jogar futebol.
Até agora, depois de ter visto os jogos
com a Alemanha e com os EUA, os únicos jogadores que honraram o nome de
Portugal foram o Beto e o Ricardo Costa.
SWCP: Que mensagem gostaria de enviar aos
seus fãs?
F.P: Eu não sou um actor do
género de ter fãs. Nunca fiz por isso, porque nunca me interessou ser um actor
popular.
A mensagem e a profissão de actor
são efémeras, valem o que valem, no momento.
A única mensagem que eu gostaria de transmitir aos espectadores que
nutrem alguma simpatia pela minha pessoa é a seguinte: Acreditem que, mesmo quando o meu trabalho é menos conseguido, eu
trabalhei no sentido de vos proporcionar uma boa interpretação da personagem
que aceitei interpretar.
Amem-me quando o meu trabalho lhes
fizer bem e odeiem-me quando o meu trabalho, enquanto actor, lhes fizer mal, ou
pior, lhes for indiferente.
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